Réquiem para o ensino presencial

Réquiem para o Ensino Presencial

A Portaria MEC Nº 2117 de 03 de dezembro de 2019, que definiu as regras para aplicação de 40% da carga horárias dos cursos de graduação presenciais através da modalidade EAD elegeu o ensino híbrido como a alternativa preferencial para o ensino privado. Instituições precisando baixar custos, guerra de preços e financiamentos próprios (financiada em parte pelo FIES) e comoditização do ensino superior formam um coquetel inspirador para este ano de 2020.

Antes que se entenda esse conjunto de fatos como danosos, devemos dizer que podem ser ou não, dependendo do caminho a ser trilhado.

Para não sermos prolixos, vamos fazer uma análise sintética a partir de três óticas: mercado, IES e aluno.

 

Em cada ótica vamos observar três dimensões estressadas pela Portaria 2117/2019. A análise do mercado sugere que os grandes grupos ganham maior poder para reduzir preços, que cedem, perdem em diferenciação, pelo menos no primeiro momento em que a diretriz vai ser baixar custos, e perdem em valor agregado para o aluno que busca um curso presencial.

Neste cenário, a partir de dezembro de 2019 as IES privadas passam a ter a possibilidade de ampliar seu leque de produtos e serviços, com maior ou menor diversidade, de acordo com os atos autorizativos que possuem.

A análise da IES (à exceção das grandes empresas de educação superior e algumas poucas outras) e sem estar presente no mercado competitivo de EAD precisará pensar em formas de financiamento dos alunos com recursos próprios, permitindo competir com as grandes sem acumular prejuízos e inadimplência que comprometam sua operação. Em paralelo, devem expandir seu negócio com tipos diferenciados de cursos (sequenciais, livres, lato sensu e profissionalizantes). E, como terceira ação, reduzir seus custos acadêmicos com matrizes curriculares inteligentes e quadro de professores e tutores otimizado. As instituições de ensino devem perceber que a diversidade de produtos não é, como fora na década de 1990, uma prerrogativa das universidades. E para aquelas que possuem ato autorizativo na modalidade EAD a oportunidade de expansão de sua abrangência com novos polos e ambientes profissionais se tornou quase ilimitada. Embora neste caso, o recomendado é refletir sobre a oportunidade de oferecer cursos sem atividades presenciais, beneficiando-se da tecnologia e da expertise que cada vez mais acessamos de outros modelos educacionais presentes mundo afora.

Nessa breve exposição, a visão do aluno que busca um curso presencial será de busca pelas melhores condições de pagamento e de melhora rápida em sua empregabilidade.

E aqui estão dois grandes desafios para as instituições de ensino de médio e pequeno porte: criar alternativas viáveis aos seus alunos e para si de formas de pagamento e desenvolver programas efetivos que melhore as condições de empregabilidade de seus alunos.

Para criar alternativas de formas de pagamento a instituição deve partir das seguintes premissas:

  • O FIES sofreu um acidente com traumatismo craniano em 2014 e desde então está com morte decretada, sobrevivendo de aparelhos. Não há recursos nos cofres públicos e, neste governo, sequer há uma preocupação em tornar o financiamento estudantil uma estratégia de inclusão social.
  • Os programas de financiamento estudantil dos bancos privados foram pensados para mitigar os riscos dos agentes financeiros, delegando-o para a Instituição de ensino.
  • Programas de bolsa ao estilo “peixe urbano” servem apenas para completar cadeiras vazias de turmas presenciais já criadas, pois fora destas condições acentuam o déficit da relação entre receita e custos acadêmicos.

Em oposição a estas premissas, soluções devem considerar:

  • Não sendo uma instituição financeira, a faculdade privada deve pensar novos modelos de contratos com seus alunos, por unidade consumida (crédito por disciplina), por bloco de oferta (semestralidade) ou por empreita completa (valor total do curso em sua duração integral).
  • Estes contratos devem ter formas de garantia e compartilhamento de riscos com familiares ou outros responsáveis financeiros, sendo limitada a não utilizar bens móveis ou imóveis como garantidores.
  • Ao escolher o modelo de contrato por empreita, deve ter uma bandeja de opções de pagamentos, desde o cartão de crédito até o bom e velho boleto.

3.1) Com parcelamentos alongados a instituição deve ter um acompanhamento mais próximo deste aluno, oferecendo a ele condições especiais de acesso aos seus programas de empregabilidade e de orientação de carreira.

3.2) A estrutura administrativa e de análise de contratos e riscos deste modelo de parcelamento alongado deve ser criada de imediato com as condições para que a instituição possa aderir a modelos ousados de antecipação de recebíveis, como por exemplo um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDIC).

Perceba-se que a rede de eventos formada por desafios, riscos e soluções para as instituições de ensino superior privadas e suas mantenedoras passa pela compreensão do cenário econômico (comportamento do seu mercado local), contorno às ações limitantes dos atos regulatórios e, principalmente, o desenvolvimento de competências na área financeira (receitas e custos), a serem dotadas de profissionalismo, ousadia e criatividade e com isso, aumentar o Valor percebido de seu serviço.

 

 

 

Concordou ou discordou? Faça seus comentários ou fale diretamente com os autores:

Armando Leite

Diretor da FVB – Faculdades Integradas Vital Brazil

Mestre em Administração pelo COPPEAD/UFRJ

armando@apeironconsult.com.br

Jair dos Santos Jr

Sócio-Diretor da SANTOS JR Consultoria Educacional

Doutor em Sociologia pela UNICAMP

jairsantosjr@santosjunior.com.br